quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Rua Alferes Tiradentes: A epopeia de uma pavimentação


Vendo a obra de calçamento da parte da rua onde moro, a Rua Alferes Tiradentes, em Palhoça-SC, me fez pensar em algumas coisas;
1- Esse calçamento iniciou em janeiro de 2003 na gestão do já falecido prefeito Paulo Vidal, à época do PSDB;
2- A obra foi interrompida: A empreiteira responsável à época (Sul Catarinense, alegou que não recebera os pagamentos por parte da Prefeitura); O Sec. de Obras à época, o atual vereador e, também, não reeleito Ademir Farias, à época do PFL (hoje DEM), nada sabia; O prefeito alegou que cortes no Orçamento Federal afetaram a liberação do recurso. Detalhe: A verba era "fechada" e já enviada, ou seja, para algum lugar parte dos R$ 194 mil destinados à época se foram;
3- Entre 2005 a 2008 foram encaminhados pedidos de informação e um empenho de R$ 150 mil para o Orçamento 2009 sobre e para a conclusão do calçamento. Os pedidos de informação nunca foram respondidos e o emprenho, aprovado pelo Prefeito Ronério Heiderscheidt, do PMDB, nunca se viu revertida na conclusão da obra. Tanto o empenho quanto os pedidos de informação foram feitos pelo ex-vereador Manoel Scheimann da Silva - PT;
4- Entre 2004 a 2010 diversos foram os abaixo-assinados solicitando a conclusão do calçamento. A explicação da Sec.de Obras, agora sob a gestão de Aroldo Heiderschedt - PMDB: Esta via está totalmente calçada. (descobri que moro em outro lugar com isso);
5- Querem o mais curioso? Nas divulgações de pacotes de pavimentação feitos na imprensa pela gestão municipal entre 2007 a 2012, aparece o nome da Rua Alferes Tiradentes entre uma das contempladas, sempre com financiamento do BADESC (mas não era a própria prefeitura que afirmava estar totalmente calçada?).
6- Após um hiato de 2 anos..
7- Estação Palhoça, novo terminal de transporte coletivo é inaugurada em 06 de junho do corrente. Os coletivos passam a entrar pela rua Santos Dumont e saem pela Rua Alferes Tiradentes, sim, essa mesmo, de chão batido e com 650 ônibus/dia passando.
8- Duas semanas após os moradores da rua passaram a protestas e fecharam a via com canos, caixas de fruta e entulhos variados. A exigência da comunidade: CONCLUSÃO DO CALÇAMENTO DA RUA ALFERES TIRADENTES;
9- De junho a meados de outubro apenas pedestres, ciclistas, motos e carros pequenos transitavam pela via. A via lateral, Rua Floriano Peixoto fora calçada em outubro;
10- É liberada em fins de setembro o financiamento do BADESC para a pavimentação de diversas vias do município, entre elas, a Rua Alferes Tiradentes. Um candidato a vereador usou do documento de empenho como material de campanha. O resultado: O candidato a vereador não se elegeu;
11- Dia 08 de novembro de 2012, 08h da manhã: Oficialmente os primeiros meios-fio, carradas de areia, máquinas abrindo espaço para construir o sistema pluvial e as primeiras lajotas começam a ser colocadas nos últimos 200m da Rua Alferes Tiradentes. Via esta que existe desde 1978, com o surgimento do Loteamento Jardim dos Eucalyptos (hoje nominado Jardim Eucaliptos), bairro Ponte do Imaruim. Em 2003 ganhou 800m de calçamento e rede pluvial, mas justamente os 200m restantes, curiosamente o trecho mais movimentado da via, ficou a ver navios de fevereiro 2003 a novembro de 2012, ou seja, 9 anos e 9 meses de espera.

Esta é a ode da pavimentação de uma rua no município de Palhoça Santa Catarina.
Mas quantas ruas e comunidades por esse país não passam por igual situação?
Passam pelos obscuros desencontros de informações, certamente premeditadas para iludir o cidadão, os usos eleitoreiros de algo que nada mais é que dever da Gestão Pública em proporcionar ao cidadãos que pagam seus tributos e o mínimo que aguardam é o bom uso dos recursos arrecadados.
Até aqui o Tiradentes fora um lutador, injustiçado e esquartejado (afinal, fora calçado em partes).

sábado, 9 de junho de 2012

Sistema Integrado de Transporte em Palhoça: Encontros e desencontros

Estação Palhoça
Após meses de idas e vindas, desde o dia 07 de junho último está em funcionmento o "Sistema Integrado de Transporte" - SIT - em Palhoça. A empresa JOTUR, que tem concessão de 2/3 das linhas disponíveis na cidade há mais de 35 anos e as terá por mais 20, recebeu da Prefeitura Municipal de Palhoça a incumbência de erguer quatro terminais na cidade, sendo que 1 deles seria o principal e serviria de ligação bairros-estação-Florianópolis. A maior delas, batizada de "Estação Palhoça" está pronta e funcionando a todo o vapor.
Como toda a mudança de grande magnitude, o mínimo que podemos pensar é que tem de ocorrer um bom planejamento, muitas reuniões entre as partes interessadas e, claro, uma divulgação ampla, visando preparar, informar e trazer menores transtornos. Não foi o que ocorreu a respeito da implantação do SIT em Palhoça.
Algumas pessoas dizem que as tais mudanças foram amplamente divulgadas na imprensa escrita, televisiva e radiofonica, bem como reuniões ocorreram com ampla divulgação. Sinceramente o que se vê desde o começo do novo sistema de transortes, é a desinformação por parte da população usuária. Infelizmente não ocorreu uma massiva camapnha de informação sobre o como funcionaria o novo sistema de transporte. Não se viu cartazes nos pontos, dentro dos ônibus, carros de som informando ou quaisquer formas de comunicação que atingissem de forma antecipada a população e, consequentemente, trazendo menos transtornos ao público. 
Nas páginas virtuais da Jotur e da Prefeitura Municipal nada de viu em termos de informações. As tais reuniões informativas nos bairros reuniram em média algo em torno de 30 a 40 pessoas. Eu que moro ao lado da nova Estação Palhoça e, consequentemente, da garagem da empresa Jotur, que ouço rádio AM pelas manhãs e lê jornal com alguma frequência, não vi, ouvi ou li sequer um único informe dessas reuniões, como querem uma população bem esclarecida e participativa se o processo não é bem organizado? O resultado foram alterações radicais de um dia para o outro com um impressionamte número de transtornos para os usuários do transporte coletivo. Com o que a empresa Jotur lucra com as passagens de ônibus e a Prefeitura de Palhoça com o IPTU, ISS e outros impostos e taxas, seria de bom tom uma boa e organizada campanha de panfletagem em cada bairro com materiais específicos explicando as mudanças, assim como carros de som transitando e informando das alterações seguido daí pelas reuniões nos bairros. Como o que a Jotur e a Prefeitura de Palhoça pensa normalmente é distante do que a população precisa e necessita. Tivemos e ainda temos problemas na implementação do SIT.
Via de acesso a Estação
Ainda no campo dos desencontros, temos a seguinte situação: A Jotur recebe da Prefeitura a missão de erguer Estações de ônibus e formatar todo o sistema de transporte coletivo, bem como mais 20 anos de concessão. O grande problema é que a Jotur fez sua parte, mas a Prefeitura simplesmente deixou de lado uma questão básica: A mobilidade urbana. Sem ela não há horários de ônibus que sejam cumpridos, afinal, das outrora 280 opções de horários, Palhoça passou a ter 1.200 horários diários circulando, isso sem contar os 450 horários que chegam de Flrianópolis e São José para Palhoça. Nenhuma via em Palhoça foi alvo de manutenção e nova pavimentação, tampouco sinalização e adequação. Exemplo basico são as vias de entrada e saída da Estação Palhoça: Na entrada a via de acesso tem o calçamento em condições precárias e a rua de saída da Estação é de chão batido, incompatível com a quantidade de ônibus que por ela passam, tanto que os moradores fecharam neste sábado por 1h a rua em protesto pelo descaso da Prefeitura que desde 2003 não conclui a pavimentação da referida via. Agora é necessária uma pavimentação asfáltica. A administração municipal ficou rindo atoa e simplesmente jogou as batatas quentes para a Jotur e comunidade. Planejamento mesmo que era bom, praticamente inexiste.
Sobre as linhas e horários do novo sistema temos prós e contras. Como citado cima, a quantidade de horários disponíveis dentro de Palhoça mais que quadruplicou, afinal, 90% das linhas que saíam dos bairros diretamente para Florianópolis não o fazem mais, pois vão para a Estação Palhoça e de lá o passageiro pega uma das 4 linhas disponíveis rumo a Florianópolis em ônibus articulados (que por sinal são novos e bem confortáveis). Não se paga mais por isso. Quem vem dos bairros para a Estação, paga R$ 2,45 e, se este desejar ir a Florianópolis, paga mais R$ 1,30, perfazendo o valor de R$ 3,85. Quem possui os cartões eletrônicos apenas integra de um ônibus para o outro. O ônus tem sido o descompasso entre os horários de chegada de todas as linhas vindas dos bairros com a saída dos ônibus que vão para Florianópolis, a solução por enquanto tem sido a de apenas liberar as linhas para a Capital apenas quando as linhas dos bairros chegarem a estação, ou seja, a título de exemplo, um Estação Palhoça Semi-Expressa que deveria sair às 09h acaba saindo às 09h15. Dependendo do caso o tempo de viagem aumentou consideravelmente. Por exemplo, Quem antes pegava a linha Caminho Novo - Florianópolis levava em média 50 minutos para chegar ao Terminal Central de Florianópolis, hoje este mesmo passageiro precisa pegar um Caminho Novo - Estação ou São Sebastião via Caminho Novo - Estação e daí pegar um Estação - Ticen, considerando os tempos de espera para pegar estes ônibus somado a viagem, pode-se levar quase 1h30 para chegar, mas pode levar 1h, caso o passageiro pegue um Estação - Ticen Direto, que vai pela BR 101. Ajustes devem e precisam ser feitos.
Sobre a Estação Palhoça em si, ela supre as necessidades e foi bem construída, há um bom número de fiscais e funcionários para sanar as dúvidas dos passageiros e o embarque/desembarque flui bem. O que chama a atenção é que a Estação não fica na região central de Palhoça, pelo contrário, ela fica localizada no extremo norte da cidade, bem deslocada de quase todos os bairros, aqui esbarramos mais uma vez no problema da Prefeitura não planejar o desenvolvimento urbano da cidade, já que o Plano Diretor data do distante ano de 1993 e desde 2008 o mesmo vem sendo infrutíferamente debatido sem chegar a um direcionamento prático. Com um Plano Diretor atualizado certamente não teríamos absurdos como uma Estação Central ficar quase fora da cidade.
 Parte dos problemas que os palhocenses tem passado nesse processo de adaptação ao novo SIT foi sentida pelos florianopoplitanos em 2000, quando foram implantados os terminais integrados no Centro e nos bairros, porém lá, com todos os canais de TV, emissoras de rádio e principais jornais sediados na Capital, as informações e campanhas de orientação foram feitas, mesmo assim muitos transtornos ocorreram, problemas com os valores das tarifas e ausências de horários de muitas linhas. Com o tempo ajustes foram feitos, outros, como a tarifa única, foram efetuados uns três a quatro anos após. Tanto lá como cá o grande e principal problema é o mesmo: O valor da tarifa. Florianópolis e região detém o título de vice no tocante a tarifa mais cara do pais, perdendo apenas para São Paulo. Os valores das passagens das linhas que transitam pela Grande Florianópolis variam de R$ 2,45 (linhas de bairro em Palhoça) a R$ 8,30 (linha Florianópolis - Pinheira), a média fica em torno de R$ 3,00 em todas as linhas. As mais de 10 empresas que prestam serviços via concessão pública possuem uma frota com veículos em condições duvidosas de manutenção e a renovação de frota não acompanha a grande arrecadação que essas empresas conquistam.
Ônibus articulado passando pela rua onde moro, que é a saída da Estação
O dia que as necessidades e desejos da população que usa o transporte coletivo se encontrarem com o que as empresas e administrações municipais oferecem, evitando os inúmeros desencontros que ocorrem dia a dia, certamente poderemos chegar a um caminho único que leve a soluções práticas para a mobilidade urbana de uma região que possui quase 1,5 milhão de habitantes. Pouco adianta erguer novos terminais e comprar meia dúzia de ônibus novos, planejamento estratégico vai bem além disso.
Enquanto isso todos os ônibus da Estação Palhoça passam pela rua de chão batido onde moro. Que integração, não?

domingo, 29 de janeiro de 2012

Dickens, Um Conto de Duas Cidades, e a literatura histórica

Após um período sem atualizações no blog, abro os trabalhos em 2012 distanciando-me das polêmicas e assuntos do momento pela internet, revistas, TV e rádios. Opto por algo que me é muito aprazível: A literatura. 
Em meados do ano passado, pesquisando material para um trabalho na disciplina de História Contemporânea I sobre a Londres do século XIX, um colega de curso trouxe um exemplar de "Um Conto de Duas Cidades", do renomado escritor Charles Dickens. Até ali eu estava trabalhando sobre outra obra dele, "As Aventuras do Sr.Pickwick". Em virtude da demanda textual que o curso de História nos impõe, a leitura de "Um Conto..." foi de forma fragmentada, com pausas longas permeadas de períodos constantes de leitura.
Edição brasileira publicada em 2002, pela Nova Cultural
Originalmente esta obra foi publicada no ano de 1859 e historicamnte se situa nas cidades de Londres e Paris, inicialmente recuando a 1757, e terminando a história em 1794. Factualmente situa-se nos acontecimentos pré e durante a Revolução Francesa, numa descrição que buscou rememorar algum aspecto da realidade dos alaridos revolucionários da "liberdade. igualdade, freternidade ou morte", centrando-se nos pobres cidadãos que deram cabo a Revolução e que mostraram-se fortes nos momentos mais sangrentos daqueles dias da dácada de 1790. Ficcionalmente França e Inglaterra sem encontram em diversas histórias e pessoas: O funcionário do banco, o mensageiro, o advogado, o negociante de rua, o francês que renegou seu passado aristocrata (além de seu próprio sobrenome) e que aproximou-se de uma família francesa que vivia em Londres onde, pelos caprichos da trama de Dickens, teriam seus destinos aproximados e suas rotas de vida alteradas. 
Um doutor que ficou preso por quase vinte anos e trouxe consigo todas as facetas que o psicológico pode impôr a pessoas que ficam reclusas aproxima o destino do funcionário do banco inglês com filial em Paris que, por sua vez, tem a incumbência de alterar o destino de uma jovem francesa que desde nova vive em Londres. Em meio a isso, alguém que salva-se da forca em Londres por uma série de detalhes, entre elas, a incrível semelhança entre este e seu advogado. Curiosamente isso seria primordial ao final da trama, pois, o francês aristocrata pertencia a uma família que alterou o destino de muitas pessoas pobres, famintas e miseráveis daquela França que expropriava e explorava os pobres em detrimento dos luxos dos mais ricos e, na engenharia do romance, uma dessas vítimas tinha um sede de vingança que os brados revolucionários trariam o momento e argumentos precisos.
Independente do grau de protagonismos deste ou aquele personagem, todos possuem uma importância vital na história. Uma Inglaterra apreensiva pelos movimentos revolucionários de uma França que cortou na própria carne e fez jorrar sangue para que algo "mudasse".
As vidas das personagens podem ser confundidas, provavelmente, com as de milhares de pessoas naquele tempo, apear dos desfechos certamente não terem precedentes na história como tal. O real da história e historiografia funde-se com o fantástico da ficção. Em minha opinião "Um Conto de Duas Cidades" cumpriu com fina maestria o papel de ser uma obra histórico-ficcional. Nesta obra identificamos o fino humor inglês e o drama dos romances publicados no século XIX, Dickens sem dúvida consegue trazer o leitor para as ruas de Londres e Paris, bem como as prisões e execuções públicas ocorridas nessas cidades naqueles tempos. 
Representação de execução na guilhotina em Paris. s.a., s.d.
Os últimos capítulos deste livro são permeados pela sombra de um personagem sem fala, de um movimento único, porém definitivo: A guilhotina. Por ela, por pensar nela, por vê-la ou sentir sua ação e desligar-se deste mundo, as personagens de certo modo tem em sua alça de mira a visão da lâmina afiada, do "barbeiro da revolução". Esta personagem definiu os rumos dos homens e mulheres daquele tempo, bem como das personagens desta obra de Dickens.
Sem dúvida gostei da trama, do uso do fato histórico sem os ufanismos micheletianos ou do ceticismo marxista, a Revolução foi maior em seu tempo, mas as personagens mostraram-se maiores que a Revolução, apesar da Revolução cobrar a conta, como toda a Revolução.
Parto da ideia que história e literatura devem e precisam andar juntas, contribuindo para ambas em via de mão dupla, a fluência de uma leitura de romance somado a precisão da escrita historiográfica sem dúvida ajudarão a literatura e a historiografia. É uma opinião pessoal que gera muitos debates dentro da acadamia, principalmente na de História, contudo partilho da ideia que livros, revistas, teses, artigos, contos, crônicas, etc., devem preocupar-se com o elemento primordial e que dará publicidade ao que foi escrito: O leitor. Posso estar equivocado em meu pensamento, mas excelentes questionamentos e teses que nos levariam a imensos debates por vezes morrem nas prateleiras das universidades muito pelo estilo quadrado da escrita academicista imposta quase como cânone em muitos de nossos cursos. A História precisa aprender com a literatura, revolucionando a si mesma, o que necessariamente não quer dizer devamos deixar de lado o rigor da história em suas formas de analisar e problemtizar.
Esta obra de Charles Dickens que terminei de ler me ajudou a pensar para além das fronteiras de suas páginas, as duas cidades retratadas por Dickens posso em uma analogia ver também a relação e os conflitos entre as "cidades" da História e da Literatura. Tão próximas, tão distantes, tão úteis.

*Texto revisado em 30 de janeiro de 2012, às 10h54.