sábado, 9 de junho de 2012

Sistema Integrado de Transporte em Palhoça: Encontros e desencontros

Estação Palhoça
Após meses de idas e vindas, desde o dia 07 de junho último está em funcionmento o "Sistema Integrado de Transporte" - SIT - em Palhoça. A empresa JOTUR, que tem concessão de 2/3 das linhas disponíveis na cidade há mais de 35 anos e as terá por mais 20, recebeu da Prefeitura Municipal de Palhoça a incumbência de erguer quatro terminais na cidade, sendo que 1 deles seria o principal e serviria de ligação bairros-estação-Florianópolis. A maior delas, batizada de "Estação Palhoça" está pronta e funcionando a todo o vapor.
Como toda a mudança de grande magnitude, o mínimo que podemos pensar é que tem de ocorrer um bom planejamento, muitas reuniões entre as partes interessadas e, claro, uma divulgação ampla, visando preparar, informar e trazer menores transtornos. Não foi o que ocorreu a respeito da implantação do SIT em Palhoça.
Algumas pessoas dizem que as tais mudanças foram amplamente divulgadas na imprensa escrita, televisiva e radiofonica, bem como reuniões ocorreram com ampla divulgação. Sinceramente o que se vê desde o começo do novo sistema de transortes, é a desinformação por parte da população usuária. Infelizmente não ocorreu uma massiva camapnha de informação sobre o como funcionaria o novo sistema de transporte. Não se viu cartazes nos pontos, dentro dos ônibus, carros de som informando ou quaisquer formas de comunicação que atingissem de forma antecipada a população e, consequentemente, trazendo menos transtornos ao público. 
Nas páginas virtuais da Jotur e da Prefeitura Municipal nada de viu em termos de informações. As tais reuniões informativas nos bairros reuniram em média algo em torno de 30 a 40 pessoas. Eu que moro ao lado da nova Estação Palhoça e, consequentemente, da garagem da empresa Jotur, que ouço rádio AM pelas manhãs e lê jornal com alguma frequência, não vi, ouvi ou li sequer um único informe dessas reuniões, como querem uma população bem esclarecida e participativa se o processo não é bem organizado? O resultado foram alterações radicais de um dia para o outro com um impressionamte número de transtornos para os usuários do transporte coletivo. Com o que a empresa Jotur lucra com as passagens de ônibus e a Prefeitura de Palhoça com o IPTU, ISS e outros impostos e taxas, seria de bom tom uma boa e organizada campanha de panfletagem em cada bairro com materiais específicos explicando as mudanças, assim como carros de som transitando e informando das alterações seguido daí pelas reuniões nos bairros. Como o que a Jotur e a Prefeitura de Palhoça pensa normalmente é distante do que a população precisa e necessita. Tivemos e ainda temos problemas na implementação do SIT.
Via de acesso a Estação
Ainda no campo dos desencontros, temos a seguinte situação: A Jotur recebe da Prefeitura a missão de erguer Estações de ônibus e formatar todo o sistema de transporte coletivo, bem como mais 20 anos de concessão. O grande problema é que a Jotur fez sua parte, mas a Prefeitura simplesmente deixou de lado uma questão básica: A mobilidade urbana. Sem ela não há horários de ônibus que sejam cumpridos, afinal, das outrora 280 opções de horários, Palhoça passou a ter 1.200 horários diários circulando, isso sem contar os 450 horários que chegam de Flrianópolis e São José para Palhoça. Nenhuma via em Palhoça foi alvo de manutenção e nova pavimentação, tampouco sinalização e adequação. Exemplo basico são as vias de entrada e saída da Estação Palhoça: Na entrada a via de acesso tem o calçamento em condições precárias e a rua de saída da Estação é de chão batido, incompatível com a quantidade de ônibus que por ela passam, tanto que os moradores fecharam neste sábado por 1h a rua em protesto pelo descaso da Prefeitura que desde 2003 não conclui a pavimentação da referida via. Agora é necessária uma pavimentação asfáltica. A administração municipal ficou rindo atoa e simplesmente jogou as batatas quentes para a Jotur e comunidade. Planejamento mesmo que era bom, praticamente inexiste.
Sobre as linhas e horários do novo sistema temos prós e contras. Como citado cima, a quantidade de horários disponíveis dentro de Palhoça mais que quadruplicou, afinal, 90% das linhas que saíam dos bairros diretamente para Florianópolis não o fazem mais, pois vão para a Estação Palhoça e de lá o passageiro pega uma das 4 linhas disponíveis rumo a Florianópolis em ônibus articulados (que por sinal são novos e bem confortáveis). Não se paga mais por isso. Quem vem dos bairros para a Estação, paga R$ 2,45 e, se este desejar ir a Florianópolis, paga mais R$ 1,30, perfazendo o valor de R$ 3,85. Quem possui os cartões eletrônicos apenas integra de um ônibus para o outro. O ônus tem sido o descompasso entre os horários de chegada de todas as linhas vindas dos bairros com a saída dos ônibus que vão para Florianópolis, a solução por enquanto tem sido a de apenas liberar as linhas para a Capital apenas quando as linhas dos bairros chegarem a estação, ou seja, a título de exemplo, um Estação Palhoça Semi-Expressa que deveria sair às 09h acaba saindo às 09h15. Dependendo do caso o tempo de viagem aumentou consideravelmente. Por exemplo, Quem antes pegava a linha Caminho Novo - Florianópolis levava em média 50 minutos para chegar ao Terminal Central de Florianópolis, hoje este mesmo passageiro precisa pegar um Caminho Novo - Estação ou São Sebastião via Caminho Novo - Estação e daí pegar um Estação - Ticen, considerando os tempos de espera para pegar estes ônibus somado a viagem, pode-se levar quase 1h30 para chegar, mas pode levar 1h, caso o passageiro pegue um Estação - Ticen Direto, que vai pela BR 101. Ajustes devem e precisam ser feitos.
Sobre a Estação Palhoça em si, ela supre as necessidades e foi bem construída, há um bom número de fiscais e funcionários para sanar as dúvidas dos passageiros e o embarque/desembarque flui bem. O que chama a atenção é que a Estação não fica na região central de Palhoça, pelo contrário, ela fica localizada no extremo norte da cidade, bem deslocada de quase todos os bairros, aqui esbarramos mais uma vez no problema da Prefeitura não planejar o desenvolvimento urbano da cidade, já que o Plano Diretor data do distante ano de 1993 e desde 2008 o mesmo vem sendo infrutíferamente debatido sem chegar a um direcionamento prático. Com um Plano Diretor atualizado certamente não teríamos absurdos como uma Estação Central ficar quase fora da cidade.
 Parte dos problemas que os palhocenses tem passado nesse processo de adaptação ao novo SIT foi sentida pelos florianopoplitanos em 2000, quando foram implantados os terminais integrados no Centro e nos bairros, porém lá, com todos os canais de TV, emissoras de rádio e principais jornais sediados na Capital, as informações e campanhas de orientação foram feitas, mesmo assim muitos transtornos ocorreram, problemas com os valores das tarifas e ausências de horários de muitas linhas. Com o tempo ajustes foram feitos, outros, como a tarifa única, foram efetuados uns três a quatro anos após. Tanto lá como cá o grande e principal problema é o mesmo: O valor da tarifa. Florianópolis e região detém o título de vice no tocante a tarifa mais cara do pais, perdendo apenas para São Paulo. Os valores das passagens das linhas que transitam pela Grande Florianópolis variam de R$ 2,45 (linhas de bairro em Palhoça) a R$ 8,30 (linha Florianópolis - Pinheira), a média fica em torno de R$ 3,00 em todas as linhas. As mais de 10 empresas que prestam serviços via concessão pública possuem uma frota com veículos em condições duvidosas de manutenção e a renovação de frota não acompanha a grande arrecadação que essas empresas conquistam.
Ônibus articulado passando pela rua onde moro, que é a saída da Estação
O dia que as necessidades e desejos da população que usa o transporte coletivo se encontrarem com o que as empresas e administrações municipais oferecem, evitando os inúmeros desencontros que ocorrem dia a dia, certamente poderemos chegar a um caminho único que leve a soluções práticas para a mobilidade urbana de uma região que possui quase 1,5 milhão de habitantes. Pouco adianta erguer novos terminais e comprar meia dúzia de ônibus novos, planejamento estratégico vai bem além disso.
Enquanto isso todos os ônibus da Estação Palhoça passam pela rua de chão batido onde moro. Que integração, não?